quinta-feira, 5 de março de 2015

REPORTAGEM

O radialista Marronez gritava impropérios para o psicopata Lívido – que, para sorte do locutor, estava a quilômetros da rádio, sendo entrevistado pela repórter Lucinha.
-Salafrário! Picareta! Você não é doente coisa nenhuma! Eu tenho cara de palhaço por acaso? Quem você acha que engana fazendo discurso de coitadinho? Já não bastam os políticos pra mentir pro povo o tempo todo? Agora vem um facínora que matou nove mulheres se esconder atrás de uma esquizofrenia? Você tem é que apodrecer na cadeia, cara-de-pau! Sem-vergon...
-Marronez! – interrompeu a repórter, ao perceber a fúria na fisionomia do bandido e temendo que, embora algemado, ele esboçasse alguma reação. Marronez! Eu obtive uma informação importante! Quando criança, Lívido foi muito maltratado pela mãe; ela o deixava amarrado junto ao cachorro. Talvez por isso ele só atacava mulheres que passeavam com seus bichinhos de estimação – e a própria Lucinha ficou aliviada ao dizer isto, pois, ela mesma odiava cachorros.
-Fez muito bem a mãe deste vagabundo! Vai saber que tipo de criança foi este marginal! Não devia dar paz nem pro cachorro! O cachorro é que devia ficar solto e este patife...
-Marronez! Você não vai acreditar! Lívido está imitando um cachorro! Pena não haver nenhuma TV por aqui pra filmar isto! Ele dobrou os joelhos, colocou as mãos algemadas embaixo do queixo e está baforando como um cãozinho!
-Isto é fingimento, Lucinha! O mequetrefe quer nos fazer acreditar que é doente mesmo! Dá um osso pra este canalha pra ver se ele vai roer...
E aí, a repórter perdeu o contato com Marronez. Com a boca, Lívido pegou o microfone da mão da moça e segurava-o entre os dentes. E saltitava alegremente. Emitia sons guturais, tentando latir com o ‘ossinho’ na boca. Sem se dar conta de que não estava sendo ouvida, Lucinha continuou narrando tudo o que o psicopata fazia. Porém, quando ele ficou de quatro e foi roçar a sua perna, a moça sacou um revólver e descarregou-o contra o rapaz.
Enquanto isto, sem saber o que estava se passando, Marronez continuava disparando impropérios contra o agora defunto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário