quarta-feira, 4 de março de 2015

O CRIME

-Seu nome, por favor, senhor.
-Ronaldo.
-Onde o senhor estava no dia 15 de janeiro de 2015, às dezessete horas?
-Em minha casa, doutor.
-Havia alguém com o senhor?
-Sim. Três amigos.
-O nome deles, por favor.
-Rodrigo, Rogério e Roberto.
-O que vocês faziam?
-Uma bacanal, doutor.
-Quem comia quem?
-É mesmo necessário dizer, doutor?
-Aqui sou eu quem faz as perguntas. E seu dever é responder prontamente. Repito: quem comia quem?
-Ninguém comeu ninguém, doutor.
-Que merda de bacanal foi esta, então?
-Não foi uma merda, doutor. Foi uma suruba muito boa. O que eu quis dizer é que não houve penetração. Nós apenas nos masturbamos.
-Quem masturbou quem?
-O que isto tem a ver com o crime, doutor?
Silêncio.
-Todos masturbamos todos.
-Todos gozaram?
-Sim, senhor.
-A que horas abacou a cabanal... Digo, a que horas acabou a bacanal?
-Por volta das dezenove e trinta, doutor.
-Duas horas e meia de... O que vocês fizeram depois?
-Eles foram embora e eu fiquei lendo um livro.
-Que livro?
-120 dias de Sodoma e Gomorra, doutor.
-O senhor não pensa em outra coisa que não seja sexo?
-Penso, sim, doutor.
-Em quê?
-Em como pagar minhas contas, doutor.
-Tem muitas dívidas?
-Algumas prestações, doutor.
-Qual o montante?
-Menos de quinhentos reais, doutor.
-Está dispensado.
-Obrigado, doutor.
Ronaldo saiu da delegacia confiante. Seu crime talvez fosse até esquecido depois que a imprensa começasse a vasculhar sua vida sexual – que ele mesmo achava bem monótona, aliás.

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