o
mundo acabou ali na esquina nas pernas da menina bêbada
na
maquiagem borrada misturada aos fios de barba mal disfarçada
nos
claríssimos olhos mais claros agora pelas lágrimas que rolam
na
maldita amiga tagarela que chora um fingimento quase materno
o
mundo acabou e o mundo segue seu rumo normal de transeuntes
árvores
fumaça escadarias rolantes coretos rodeados de policiais
senhoras
obesas subindo nos ônibus errados de letreiros caídos
o
mundo acabou e não se deu conta continua girando sob o asfalto
continua
iluminando o sexo oral enrustido entre o poste e o coreto
continua
esfumaçando os olhos dos vendedores ambulantes
continua
escurecendo a água do laguinho musgoso quase surreal
o
mundo acabou e o mundo não para mantém convicto seu cinismo
expresso
principalmente nos olhos do policial que se ri da vítima
expresso
na pena que não sentem os socorristas de última hora
expresso
e muito claro como a neve que nunca vai cair nesta região
o
mundo acabou e se mantém aceso nos faróis quebrados dos veículos
inclemente
nas testas tatuadas dos marginais loucos esfarrapados
exuberante
na altura do edifício que se transforma em plateia e júri
dócil
no semblante da senhora gorda que perdeu o ônibus e ajuda
o
mundo acabou e nunca acaba e nunca acabam formas de mantê-lo
o
mundo acabou e nunca mais será o mesmo de um segundo atrás
o
mundo acabou e as obviedades deste poema natimorto também