terça-feira, 3 de março de 2015

O BRILHO

Chove gotas de ferrugem. Tudo é um breu sem fim. Tudo escapa ao brilho do olhar da criança que passa – ainda bem! Ela segue tranquila, contente... Transforma a ferrugem em giz vermelho e desenha na calçada outra criança brincando na chuva. A chuva deforma o desenho. A criança do desenho agora chora. A criança do giz fica mais feliz – a natureza está brincando com ela...
Relâmpagos de ferro cruzam o céu do quintal onde a criança agora se balança no galho da árvore. Uma seta de fogo atinge o galho, derruba-o e a criança vai ao chão. O galho e a seta viram outra brincadeira, misturados a outros apetrechos há muito colecionados: braços de bonecos, canetas sem carga, casca de coco lixada, ripas de caixa de tomate, parafusos esquecidos pelo pai... – tudo esparramado ao chão, onde a criança monta monstros e super-heróis brincantes.
A chuva passou. Não há mais ferrugem nem breu. E o brilho daquele olhar é o mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário