sexta-feira, 6 de março de 2015

CONSTRUÇÕES

-Menino! Pegue seus carrinhos e vai brincar lá dentro! Vai desabar um temporal!
Ele ia sem reclamações, pois o que gostava mesmo era do quintal transformado em barro depois da chuva. Nem queria mais brinquedos; suas mãos eram tudo de que precisava. Construía castelos cheios de passarelas para as formigas passearem. Levantava montanhas e no topo plantava uma folha que caíra da árvore. Dava à luz hominhos gorduchos e narigudos com um enorme sorriso estampado no rosto. Os hominhos subiam as montanhas, entravam nos castelos, barravam a passagem das formigas. Os hominhos ganhavam nomes. Gilmar, Ricardo, Norberto, Nivaldo, Manoel – todos xarás de primos que há muito não via e de quem tinha saudade. Os hominhos caíam, despedaçavam-se. E se transformavam em casinhas com telhado de palitos de fósforo que acendiam o cachimbo da mãe.
-Menino! Vai pra dentro! Vem vindo outro temporal!
E ele ia. Pegava uma cadeira, colocava-a embaixo do vitrô e espiava extasiado a chuva desmoronando todas as suas construções. Parecia até já saber que o eterno reside apenas na imaginação.

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