terça-feira, 3 de março de 2015

BEIJO

lá pelas tantas eu estava cansado você também já não dizíamos coisa com coisa Jesus era Genésio Genival era Lacerda e acertávamos sem querer queríamos mais uma dose de qualquer coisa e o garçom querendo fechar a bodega não lembrávamos de uma história que valesse a pena ser contada mais de uma vez você me perguntou meu nome eu me lembrei de uma música que falava de signos e perguntei o seu ninguém respondeu nada olhávamo-nos fixamente e o silêncio aumentava só o garçom bufando de raiva e o amor nascia entre nós pelo menos em mim talvez fruto das maluquices todas que dissemos baixinho ou bem alto já não lembro e você não deve lembrar também queria beijar sua boca mas você queria conversar eu queria conservar o silêncio o silêncio eu falei o silêncio casual é sinal de que nada mais deve ser dito e eu quero morder sua boca você riu e me chutou por debaixo da mesa que balançou e um copo caiu nos molhando o garçom perdeu a paciência e gritou que não aguentava mais aquela vida nos distraiu mas voltei ao assunto do beijo você desconversou eu não queria quebrar o silêncio e o garçom escandalizando mandei-o calar a boca e queria sua boca na minha a sua não a do garçom já queria qualquer boca se você não me beijar eu beijo o garçom você gargalhou e a vontade do beijo aumentou eu estou amando você eu disse você se levantou para se dobrar de tanto gargalhar e ao se dobrar seu rosto ficou bem pertinho do meu e eu lasquei o beijo
você parou de rir achava que eu não tivesse coragem de beijar sua boca na frente de todo mundo mas não havia ninguém a não ser o garçom reclamando que não ganhava pra ver aquilo você foi embora sem ao menos se despedir e eu com vontade de mais beijo e de tudo mais vi sua sombra desaparecer na esquina ia correr atrás de você mas o garçom veio me cobrar a conta antes que eu também fosse embora paguei e mandei ele tomar no cu saí caminhando em sentido contrário ao seu pois estava envergonhado demais pra olhar pra você novamente fui procurar outro beijo em outra esquina outro bar outros copos outras bocas mas a sua boca não saía da minha cabeça não saía da minha boca mesmo longe mesmo além da esquina mesmo já em casa dormindo sua boca me atentava até no sonho no sonho no sonho eu beijei sua boca beijei seu corpo inteiro desavergonhadamente e tinha coragem de encarar seu olhar assustado e surpreso por um simples beijo
acordei
a cabeça dói
nunca mais vou querer seu beijo
nunca mais um beijo desastrado

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