O
ídolo morreu. Levou consigo toda a verve da tribo. O cachimbo da paz, invenção dele,
perdeu a simbologia esperada. Os cocares, outra das suas criações, todos se acinzentaram.
Andar nu já não trazia conforto; sentiam frio. Não mais havia ânimo para pescar,
caçar e cozer a própria alimentação. Todos emagreceram demasiadamente. O rio já
não servia para nadar. O sol foi desprezado e a pele empalideceu. A única utilidade
das tabas era esconder-se para lamentos profundos. Os homens perderam a libido
e as mulheres, a fertilidade; a tribo envelheceu em pouco tempo. Velhos,
cansados e tristes – e não notavam. Até a natureza se condoera e só fazia
chover. O tempo escuro se misturava à depressão local.
Mas...
Um pajé, um único pajé – talvez por influência do próprio ídolo morto – teve um
lampejo e pôde perceber a apatia da tribo. Imediatamente, fez a dança para o
sol voltar a brilhar. Daí, muitos já conseguiram abrir os olhos. O pajé
conversou com eles, convencendo-os de que o ídolo certamente não gostaria de ver
a tribo naquele estado. E uns foram conversando com outros até tudo voltar à
normalidade. A tribo já pescava, caçava, nadava e tomava sol novamente. Fizeram
uma grande festa em homenagem ao ídolo. E, em meio a danças e cânticos, o pajé
do lampejo foi tido como o novo ídolo da tribo.
Um
dia, o novo ídolo também morreu. Levou consigo toda a verve da tribo...
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