Primeiro
foram os celulares: eles saltaram das mãos, dos bolsos, das mesas ou de onde
quer que estivessem e ficaram sobrevoando o mundo. Depois, todos os automóveis e aviões, ao
mesmo tempo, se desintegraram e suas peças voavam e se chocavam no espaço. O
para-choque de um caminhão bateu no sino de uma igreja e, imediatamente, todos
os sinos de todas as igrejas começaram a badalar. Em menos de uma hora de som
ensurdecedor, os prédios também começaram a se desintegrar e tijolos e blocos
de concreto passeavam pelo céu.
Ninguém
se machucou, porém, as pessoas não conseguiam se ouvir e choravam de desespero,
principalmente as crianças. Ver as cidades totalmente vazias era mais
assustador do que ver o céu repleto de objetos voadores ou do que saber que não
se teria onde morar. “Tanto tempo para construir isto tudo!”, pensou alguém.
“Tanto dinheiro pra nada!”, falou outra pessoa sem ser ouvida nem por si mesma.
“Poxa! Justo agora que passei no vestibular!” “E minhas aplicações no banco,
como ficam?” “Vou perder o último capítulo da novela...” “Como vou trabalhar?”
“Bem que um troço desses podia cair na cabeça de Fulano!”
Nada
caía. Todos os objetos do mundo sobrevoavam as pessoas cada vez mais
estupefatas pela impossibilidade de se comunicar. De início, ficaram
paralisadas, pensando em seus bens. Depois, começaram a vagar pelos campos
vazios que foram se formando. E foram percebendo que podiam passar por qualquer
lugar, pois nada mais tinha dono. Isso foi lhes dando alguma resignação e até
certa alegria. Estavam se vendo de uma forma que nunca nem tinham imaginado. E
passaram a se abraçar, numa tentativa de substituir a falta de comunicação. E
perceberam que o abraço era a melhor forma de comunicação. Estavam, agora,
felizes!
Os
objetos do céu foram sumindo, como que sugados por um buraco negro. O absurdo
ruído desapareceu. As pessoas voltaram a se falar e ouvir. Não precisavam mais
se abraçar. E o primeiro plano foi reconstruir tudo o que haviam perdido.
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