quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

MOMENTÁRIO


Queria fazer um diário descrevendo o que acontece a cada momento. Um “momentário”. Cada milésimo de segundo da vida retratado. Cada piscada, cada inspiração, cada movimento da língua, cada som que invade os ouvidos, cada arrepio. Cada passo e o que os pés pisaram naquele átimo de segundo. Cada gesto e seu significado. Cada pensamento e sua intenção, sua direção, sua divagação, sua determinação. E tudo ao mesmo tempo. Repetir, com palavras, todos os movimentos do corpo e da alma simultaneamente. Ininterruptamente, como um livro que não para e não parará de ser escrito – por um escritor multifacetado e completo; incompetente para poder aprender, íntegro para poder errar; desavergonhado para conseguir entender o que cada momento quer significar, honesto para saber descrevê-lo com exatidão. Um livro sempre aberto (já que em eterno movimento) e repleto de possibilidades de encerramento. Um livro com começo, tentando adivinhar o primeiro instante ocorrido. Um livro com meio, por onde desfilem o mínimo, o minúsculo e o microscópico. Um livro sem fim e com várias finitudes. Um “momentário” que talvez ninguém leia, ninguém veja, ninguém aprecie, ninguém critique, ninguém ame, ninguém xingue, mas com a certeza de que foi minuciosamente vivido.

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