Queria
fazer um diário descrevendo o que acontece a cada momento. Um “momentário”.
Cada milésimo de segundo da vida retratado. Cada piscada, cada inspiração, cada
movimento da língua, cada som que invade os ouvidos, cada arrepio. Cada passo e
o que os pés pisaram naquele átimo de segundo. Cada gesto e seu significado.
Cada pensamento e sua intenção, sua direção, sua divagação, sua determinação. E
tudo ao mesmo tempo. Repetir, com palavras, todos os movimentos do corpo e da
alma simultaneamente. Ininterruptamente, como um livro que não para e não
parará de ser escrito – por um escritor multifacetado e completo; incompetente
para poder aprender, íntegro para poder errar; desavergonhado para conseguir
entender o que cada momento quer significar, honesto para saber descrevê-lo com
exatidão. Um livro sempre aberto (já que em eterno movimento) e repleto de possibilidades
de encerramento. Um livro com começo, tentando adivinhar o primeiro instante
ocorrido. Um livro com meio, por onde desfilem o mínimo, o minúsculo e o
microscópico. Um livro sem fim e com várias finitudes. Um “momentário” que
talvez ninguém leia, ninguém veja, ninguém aprecie, ninguém critique, ninguém
ame, ninguém xingue, mas com a certeza de que foi minuciosamente vivido.
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