quinta-feira, 22 de junho de 2017

O MUNDO ACABOU

o mundo acabou ali na esquina nas pernas da menina bêbada
na maquiagem borrada misturada aos fios de barba mal disfarçada
nos claríssimos olhos mais claros agora pelas lágrimas que rolam
na maldita amiga tagarela que chora um fingimento quase materno
o mundo acabou e o mundo segue seu rumo normal de transeuntes
árvores fumaça escadarias rolantes coretos rodeados de policiais
senhoras obesas subindo nos ônibus errados de letreiros caídos
o mundo acabou e não se deu conta continua girando sob o asfalto
continua iluminando o sexo oral enrustido entre o poste e o coreto
continua esfumaçando os olhos dos vendedores ambulantes
continua escurecendo a água do laguinho musgoso quase surreal
o mundo acabou e o mundo não para mantém convicto seu cinismo
expresso principalmente nos olhos do policial que se ri da vítima
expresso na pena que não sentem os socorristas de última hora
expresso e muito claro como a neve que nunca vai cair nesta região
o mundo acabou e se mantém aceso nos faróis quebrados dos veículos
inclemente nas testas tatuadas dos marginais loucos esfarrapados
exuberante na altura do edifício que se transforma em plateia e júri
dócil no semblante da senhora gorda que perdeu o ônibus e ajuda
o mundo acabou e nunca acaba e nunca acabam formas de mantê-lo
o mundo acabou e nunca mais será o mesmo de um segundo atrás
o mundo acabou e as obviedades deste poema natimorto também

Nenhum comentário:

Postar um comentário